“Teteu, viado tem de morrer”, ensina o tio ao sobrinho, em um vídeo postado no You Tube e repetido em programas de TV. Pode ser que o pequeno aluno da escola de homofobia familiar não siga o aprendizado, mas também é possível que ele seja, no futuro, igual a um dos responsáveis pelo assassinato dos 19 gays baianos até 1º de novembro de 2009.
Com a morte do apresentador de TV Jorge Pedra, a Bahia assumiu este ano o segundo lugar no ranking brasileiro da homofobia, termo que caracteriza a aversão à homossexualidade. Só perde para o Paraná, com 20 homicídios registrados no mesmo período.
Contudo, para especialistas em sexualidade ouvidos pelo Jornal CORREIO os números refletem padrões de comportamentos difundidos através de gerações. “A primeira questão por trás disso tudo é a tradição de sociedades patriarcais, como é o caso do Brasil, onde está preservada a cultura do macho”, analisa o antropólogo Roberto Albergaria.
Nesse caldo cultural, entra a formação religiosa originada na tradição judaico-cristã. “Nela, não há lugar para outro comportamento a não ser a total submissão da mulher e de quem não é macho por quem se acha o ‘homem de verdade. Isso está no inconsciente coletivo, que se aflora em muitos momentos’”, completa Albergaria.
Culpa
Para o antropólogo, muitos assassinatos de homossexuais estão ligados à não-aceitação do prazer. “Isso ocorre quando o gay não assumido entra em uma relação homossexual, assume a posição de passividade, mas sente culpa por ter gostado do que fez”, destaca.
É o caso da morte do gerente do Irdeb Mauro Mascarenhas, irmão do humorista Cláudio Manoel, do programa Casseta&Planeta. Um dos motivos alegados pelo assassino de Mascarenhas foi que ele teria tentado penetrá-lo. Há casos em que a submissão do homossexual pelo que se diz macho se dá de outras formas. Albergaria cita como exemplo situações em que o gay é coagido a manter o parceiro financeiramente. “A regra se aplica aos ‘bofes’ avulsos, aqueles que só querem transar com um ‘viado’ por causa da grana ou simplesmente para roubá-lo”, assinala. São casos como esses que acabam descambando para os assassinatos de viés homofóbico.
É só relembrar as mortes de personalidades como o ator Moacyr Moreno e o artista plástico Fauzi Maron. No depoimento à polícia, os autores do homicídio de Moreno relataram que, no dia do crime, estavam à cata de um gay para ganhar uma grana.
O presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, reconhece que a cultura de discriminação e repressão sexual contribue para que os gays se coloquem em situação de risco. “Os homossexuais passam por um processo de desrepressão selvagem através do sexo. Isso acontece porque ainda há muito preconceito como homossexual, inclusive dentre eles”, diz Cerqueira.
Para ele, muitos gays acabam levando uma vida desregrada com vários parceiros e sem se preocupar com a segurança. “Muitos homossexuais preferem se arriscar em contratar o serviço de garotos de programa, ao invés de buscar um relacionamento fixo, temendo ser vítima de preconceito”, completa.
Hóteis negligenciam cadastro
Os hotéis com hospedagem de curto período, que são usados com motéis, negligenciam o cadastramento de seus hóspedes, avalia Gilberto Marquezine, superintendente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Salvador e Litoral Norte.
Segundo Marquezine, a norma nº429/2000, do Ministério do Turismo, determina que é obrigatório o preenchimento da ficha de ocupação de hospedagem para todas as pessoas que entrarem no estabelecimento. Ao contrário do que foi feito na noite de domingo no Hotel Democrata (Largo Dois de Julho), onde o apresentador de TV Jorge Pedra foi assassinado.
Por ser cliente “vip” do estabelecimento, o hotel não cadastrou a entrada do acompanhante, que se transformou no assassino do jornalista. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - Bahia, Ernani Pettinati, afirma que os motéis de pequeno porte têm o hábito de negligenciar o cadastramento. “Isso é uma falha grave, que coloca a vida dos hóspedes em risco e mancha a idoneidade do estabelecimento”.
O presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, informou que hoje a instituição vai solicitar da prefeitura que realize vistoria nesses estabelecimentos. “A maioria dos hotéis e motéis do centro não faz o registro dos seus clientes. Por isso são corresponsáveis. “O hotel não pediu identificação, houve um assassinato, a legislação pede que hóspedes sejam identificados e a taxa de ocupação seja informada aos órgãos governamentais”, diz Cerqueira.
Além disso, o GGB solicitará da Secretaria de Segurança Pública (SSP) que treine os funcionários dos estabelecimentos hoteleiros para facilitar a realização de retratos falados. “Apesar do grande fluxo de clientes, se o funcionário for treinado vai conseguir lembrar de traços da fisionomia das pessoas. Isso pode ajudar a elucidar eventuais crimes”, disse. Pettinati ressaltou que está em fase de implantação um projeto para os hotéis de Salvador de cadastramento de hóspedes informatizado.
Gay vivo não dorme com inimigo
EVITE levar desconhecidos ou garotos de programa para casa. Prefira fazer programas em hotéis, motéis ou saunas para gays.
INVESTIGUE a vida da pessoa com quem pretende sair. Prefira conhecidos ou indicados por amigos e só saia se souber que é de confiança.
NUNCA beba líquidos oferecidos pelo parceiro desconhecido. A bebida (ou chiclete) pode conter soníferos.
SE LEVAR alguém para casa, não o esconda do porteiro, ou de vizinhos. Eles podem ajudá-lo na hora do perigo. É bom ter uma boa relação.
SE FOR POSSÍVEL demonstre para seu parceiro eventual que é gay assumido. Isso evita chantagem ou tentativa de extorsão.
NÃO SE SINTA inferior. Não se mostre indefeso, evite passividade, medo, submissão. Se ele lhe ameaçar, faça escândalo.
EVITE fazer programa com mais de um michê. Antes da transa, acerte todos os detalhes: preço, duração, preferências eróticas.
NÃO HUMILHE o parceiro. Não exiba joias, riqueza ou símbolos de superioridade que despertem a cobiça do garoto de programa.
SE O ENCONTRO for na sua casa, tranque a porta e esconda a chave. Não deixe armas, facas e objetos perigosos à vista.
SE FOR AGREDIDO procure a polícia, peça exame de corpo de delito e denuncie o caso aos grupos de ativistas. Fonte: Grupo Gay da Bahia.
abalo
Nenhum comentário:
Postar um comentário