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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Homossexual queixa-se de agressão por bombeiros


Eram 21.30 da noite de Carnaval quando Nuno Cardoso, que ia sozinho a caminho de casa, foi abordado por um grupo de 15 pessoas mascaradas. Depois, segundo contou ao DN, foi agredido com paus e pontapés. Os golpes, recorda, foram acompanhados por insultos que deixam bem claro que se tratou de "um crime de ódio baseado no preconceito", por ser homossexual. "Chamavam-me paneleiro, bicha e outras injúrias mais baixas. Não vejo outro motivo para me terem agredido a não ser a minha orientação sexual", diz. A sua indignação aumentou quando percebeu que alguns dos agressores eram bombeiros voluntários, conclui.

Nuno fez queixa na GNR de São João da Pesqueira, onde vive, uma informação confirmada ao DN por fonte daquela guarda. E, segundo adianta, foi ontem submetido a um exame por um perito de medicina legal, para avaliar os seus ferimentos: "Tive muita sorte em ficar apenas com a cabeça partida e um hematoma na mão."

athos

Mas, quando foi fazer queixa, na quarta-feira de manhã - depois de já ter identificado alguns dos mascarados com a ajuda da família -, descobriu que já havia outra denúncia de agressão, contra si, das mesmas pessoas que acusa. "Por um lado, facilitou o trabalho, porque seria difícil identificar todos os 15 e saber as moradas. Por outro, acho ridículo. Dizem que fui eu que os provoquei com uma vassoura. Tinha estado no jardim, com o computador, a usar a Internet sem fios, e estava a caminho de casa. Não tinha vassoura nenhuma", diz.

Paulo Esteves, comandante dos Bombeiros Voluntários de São João da Pesqueira, assume que cinco ou seis dos seus homens estiveram envolvidos no incidente com Nuno, mas conta uma versão diferente. "Eles dizem que se limitaram a defender-se. Há quem diga que foi culpa dele, há quem diga que não", explica ao DN.

O comandante, que já foi confrontado com a situação pela mãe de Nuno, aguarda agora uma queixa por escrito para iniciar um processo de averiguações. Até lá, prefere não fazer mais comentários. Garante, no entanto, que os bombeiros em causa não estavam de serviço.

Nuno decidiu também contactar o Governo Civil. "Quero que tomem medidas para punir a Corporação de Bombeiros, porque é uma vergonha que os meus agressores façam parte de uma instituição nobre e com fins humanitários." Sobretudo porque está convencido de que se tratou de um crime de ódio por causa da sua orientação sexual. "Alguns conheço de vista, porque é uma terra pequena, mas não falo com nenhum e só falaram de coisas da minha vida privada. Por isso, não vejo outra razão. Não se agride assim uma pessoa sem motivo nenhum", diz o professor de História de 34 anos, que este ano não ficou colocado e por isso está a viver com os pais em São João da Pesqueira. "A minha família, os meus vizinhos, estamos todos perplexos com este ataque. Na altura nem me lembrei de gritar, só pensei em defender- -me", conclui.

Nuno contactou também a Associação Ilga (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) para saber se em tribunal pode defender que apenas foi agredido por ser homossexual e que implicações isso pode ter. A associação, segundo o seu presidente, Paulo Côrte, aconselhou-o a usar esse argumento, pois desde 2007 a homofobia pode contribuir para o agravamento da pena. No entanto, ainda há muitos casos em que as vítimas não fazem queixa porque temem a censura social ou "um segundo momento de discriminação pelas autoridades", conclui o activista, sublinhando ser preciso sensibilizar as forças de autoridade para estes casos.

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