É difícil desvincular o nome de Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, a Lota - esteta, paisagista, arquiteta sem diploma, mas com gosto requintado - da figura de Elizabeth Bishop, vencedora de premio Pulitzer e poeta ainda hoje influente na literatura americana. Estão juntas, misturadas, amalgamadas para todo o sempre.
Meu leitor, minha leitora, experimente consultar algum material sobre a vida de Bishop - e existem centenas de fóruns, sites, comunidades no orkut, um filme em produção, uma peça que foi montada no Rio e outra em Nova York, com Amy Irving no papel da escritora - e você vai encontrar, muitas vezes, o nome de Lota.
E é igualmente difícil deixar de citar a casa onde elas viveram o caso de amor que durou cerca de 14 anos e que, além de cenário para a relação aberta e destemida de duas mulheres incríveis, foi marco da arquitetura brasileira.
Em 16 de março de 2010, Lota teria completado seu centenário, que passou, praticamente, em brancas nuvens. Fotos dela na internet? Poucas e antigas. Tenho certeza que - em fevereiro de 2011 - os cem anos de nascimento de Bishop serão celebrado nos Estados Unidos e nos países anglófilos, com toda pompa e circunstância merecidas.
Lota, talvez (ou com certeza?) por ter sido uma ativista de direita e colaboradora do grupo que assumiu os destinos do país, na ditadura militar, foi detonada sumariamente das wikipedias e dos googles da vida.
O esquecimento é injusto. Lota deixou como herança para nós, cariocas, o Aterro do Flamengo, por quem deu literalmente sangue, suor, lágrimas e a própria vida, ao ver destruído o relacionamento com Elizabeth Bishop. Mesmo os sites que falam do Aterro não citam o nome de sua idealizadora e construtora.
O livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen Lucia Oliveira (Editora Rocco, 1995), mostra com muita clareza a dificuldade que Lota encontrou ao tentar agilizar a burocracia de seu tempo, para completar a grande obra de sua vida, que mudou a cara do Rio.
Quem passa pelo nosso Central Park tropical - um milhão e duzentos mil metros quadrados de verde com paisagismo de Burle Max - também não imagina que o lindo jardim à beira da baía plantado (praia artificial inventada por Lota) custou-lhes a amizade de toda vida.
Lota e Burle Max eram muito ligados, desde os tempos da Escola Nacional de Belas Artes, onde Candido Portinari também foi colega de turma de ambos. Amigos de sempre, romperam numa briga pública, feia, alimentada pela imprensa marrom da época, Insuflada por inimigos políticos e pelos que não desejavam a implantação da Fundação Parque do Flamengo, finalmente realizada após sua morte.
Filha de milionários, Lota nasceu na França, quando seu pai, que foi Ministro de Getúlio Vargas e dono do "Diário Carioca", estava exilado por motivos políticos e foi educada em internatos suíços para meninas classe cinco estrelas.
cultura gls
Um comentário:
Achei muito interessante a materia. Gostaria de acrescentar que o deputado autor do projeto em que autoriza a fundacao e criacao do Parque do Flamengo tampouco aparece na historia de nossa cidade. Falo como filha do ex-deputado Joao dos Reis Ferreira Machado, que foi autor da lei que mandou o executivo realizar e dar outras providencias. Estou organizando um documentario, pois meu pai tambem foi esquecido, perseguido, cassado e teve seus direitos politicos suspensos por 10 anos em 1966.
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