O penúltimo dia do 16º Encontro Nacional de Travestis e Transexuais (Entlaids) foi marcado pela ausência do governo federal no principal debate do dia, que discutiu o processo de violação dos direitos humanos e civis da categoria. Os participantes cobraram explicações, principalmente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), que não enviou nenhum representante à discussão informou a Agência Brasil.
Integrante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Cláudia Ramos lembrou que um dos objetivos do encontro é debater formas de combater a violência em diversas áreas. “Precisamos nos qualificar, ampliar o debate. Este é um espaço importante, de formação, que não está sendo utilizado. Fazer uma roda de conversas entre nós, é mais fácil, mas queremos discutir para ter respostas”, afirmou. “As travestis pagam impostos, votam. Não somos um ser de outro mundo”.
A representante da cidade de Campinas (SP), Janaína Lima, 34 anos, foi mais longe e acusou a SEDH de descaso. Para ela, a sociedade não quer apenas patrocínio para seus eventos. “Não adianta apenas colocar a logo[marca]. Como você vai debater, apresentar propostas se a secretaria não se faz presente? Fica claro que não existe uma prioridade”, criticou. Janaína também cobrou a participação de pesquisadores e acadêmicos da área de direitos humanos, que faltaram ao debate.
A SEDH esclareceu que um representante foi enviado ao primeiro dia do Entlaids. Ele, no entanto, não teve como permanecer no evento por causa de outro compromisso. “Lamentei”, afirmou em nota o coordenador do Programa Brasil Sem Homofobia, Eduardo Santarello, destacado para o evento. “Seria um ônus por um lado [não acompanhar o evento até o fim], mas não representava nosso descompromisso com as travestis e transexuais. Pelo contrário, somos apoiadores do evento e promovemos ações que incluem as suas demandas.”
Entre os principais convidados para o debate de hoje, mas que também se ausentou, estava a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Sílvia Ramos. A socióloga justificou a ausência, à Agência Brasil, alegando que já tinha um compromisso. “Para que eu deixe de ir a um encontro desse nível é porque tenho razões muito importantes”, declarou.
Mesmo sem a presença de representantes de movimentos e órgãos de direitos humanos, os travestis trocaram ideias de como ampliar o campo de atuação profissional e combater a homofobia, principalmente nos postos de saúde e escolas. Elas sugerem a capacitação de gestores, com o objetivo de sensibilizar para utilização do nome social (o nome feminino escolhido por elas e não o masculino da carteira de identidade).
Uma das representantes do segmento no Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp), órgão do Ministério da Justiça, Fernanda Benveutty, destacou o combate à “transfobia institucional”. “Travestis sofrem mais exatamente por parte dos operadores da segurança, como os policiais. Essa não é só uma questão do Estado. Nós sofremos essa violência e é lá que tentaremos mudar a realidade”.
abalo
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