CONTO ERÓTICO
Jamais vou esquecer do dia em que eu conheci a Fê. Era um barzinho qualquer num sábado à noite, e por uma amiga em comum acabamos na mesma mesa. Ela era incrível, sob todos os aspectos! Nós gostávamos da mesma raça de cachorros (quem no mundo tem Wiemaraners como raça preferida?), da mesma música de blues, do mesmo diretor de cinema.Eram tantas as afinidades que parecíamos feitas uma para outra. As horas passaram como se fossem segundos. Conversa agradável, lindos olhos verdes. Ela parecia não ter defeitos. Seria finalmente a namorada perfeita no meio de tantos desastres e furadas? Eis então que veio a pergunta:- Pra que time você torce?- São Paulo, por que?- Eu também! Olha, vai ter um jogo amanhã à tarde, e eu vou assistir numa lanchonete perto da minha casa, adoraria a sua companhia.- Err... claro! Naquele momento, cheia de autoconfiança, a primeira coisa que pensei foi que, assim como eu, ela estava procurando uma desculpa para me fazer um convite. Afinal, quem gosta tanto de futebol a ponto de marcar um jogo para primeiro encontro? Essa coisa de que lésbica é fanática por futebol é pura lenda urbana, certo? Coloquei um vestidinho, caprichei na maquiagem, guardei o meu maior sorriso e fui para a tal lanchonete. Lá chegando, encontrei a Fê em pé, linda de camiseta do São Paulo e óculos de intelectual. Se alguém consegue ficar atraente usando aquele uniforme, é ela. Aproximei-me do grupo, meio boba, meio sem graça. - Oi Bia, que bom que você veio. Esses são os meus amiguinhos de boteco, a gente sempre se encontra aqui pra assistir os jogos. O Felipe vem aqui faz uns 4 anos, e eu e o Gustavo nos encontramos há uns 7 ou 8.Encontros todos os domingos num boteco para assistir jogos de futebol? Isso não pode ser bom! Mas ela fica tão linda de roupinha de São Paulo...O jogo começou e tudo corria em paz. Eu não sou uma torcedora fanática, mas admito que usei de todos os meus conhecimentos futebolísticos para impressionar a Fernanda, que sorria triunfante cada vez que eu falava de um jogador ou título importante.O primeiro tempo terminou e eu estava cada vez mais encantada. Saímos da mesa para conversar um pouco a sós do lado de fora da lanchonete. Foi então que aconteceu... um corinthiano! O pobre coitado só queria puxar assunto. Ele se aproximou como quem não quer nada e fez a pergunta mágica:- Vocês torcem para o Corinthians?- OLHA AQUI, EU TENHO EDUCAÇÃO, TENHO FAMÍLIA, SOU LIMPINHA! COMO VOCÊ OUSA FAZER UMA PERGUNTA DESSAS!?O pobre do rapaz saiu de fininho, obviamente ofendido. E, ao perceber que eu estava mais branca do que a camisa que ela estava vestindo, a Fê resolveu amenizar a situação:-Fique tranqüila, esse é um bar de são-paulinos, se ele resolver me bater os garçons protegem a gente!Minuto de silêncio. Após voltar ao normal, a Fernanda percebeu o tamanho da besteira que fez e foi ficando vermelha. E enquanto eu planejava a minha fuga para que a coisa não ficasse preta e nós formássemos as cores do São Paulo da pior forma possível, alguma coisa aconteceu.Por motivo desconhecido (talvez os olhos verdes, talvez a tatuagem) eu não conseguia ficar longe daquele pit-bull, ou melhor, miniatura pincher de camisa tricolor. O jogo acabou e eu continuava lá, encantada.Então ela me chamou pra assistir o jogo da quarta na casa dela, depois o do outro domingo, e entre beijos e jogos, já estamos juntas há três meses. Eu admito que me tornei uma torcedora assídua, e que perdi a impressão de que futebol é coisa para marmanjo.Semana passada eu me vesti de uniforme de torcedor e fui ver o Morumbi lotado. O mais incrível de tudo? Eu adorei! Se perder de 3 x 0 pro Santos me deixou frustrada? Bom, já diz o ditado: “Azar no jogo, sorte no amor!”
cio
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