Conhecido por ir fundo na crítica que envolve questões sociais, o rapper MV Bill foi um dos idealizadores do polêmico documentário Falcão – Meninos do Tráfico, sobre jovens que vivem do comércio ilegal de drogas em diversas partes do país.Entre os seguidores do hip hop, ele faz sucesso há mais de 15 anos, mas também começou a chamar a atenção de outros movimentos, como o dos homossexuais, por exemplo. Apoiador da causa gay há alguns anos, MV Bill deu um grande passo ao aderir publicamente, em dezembro de 2008, a campanha "Não Homofobia", que pede pela criminalização da homofobia em todo Brasil.O carioca nascido no bairro de Cidade de Deus conversou com o G Online sobre o seu apoio aos LGBT e a luta pelo combate ao preconceito de uma maneira geral.A música Só mais um maluco, que poderá ser conferida em seu novo DVD, Despacho Urbano, questiona o preconceito contra o gay, o idoso e o negro. Em um trecho da música, o rapper diz: "E se uma guerra amanhã estourar / Sei de qual lado eu vou estar / É muito confuso é muito sinistro / Quem causa a miséria jura ter amor a cristo / E com seu ar superior não tem respeito pelo gay, / Pelo idoso pelo pobre e pelo preto".
O apoio de Bill chamou também a atenção da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), que, em carta enviada pelo presidente Toni Reis no último domingo, 5 de julho, parabenizou o rapper por "mostrar-se solidário às questões LGBT". Confira nosso bate-papo com o rapper:Quando o movimento homossexual começou a te sensibilizar?Eu nunca fui homofóbico, mas também nunca tinha parado para pensar no assunto. Até que um dia, de passagem por São Paulo para um show, um homem com toda a pinta de fã do hip hop, vestindo boné e calças largas, veio me perguntar o que eu achava dos gays no hip hop. Confesso que não soube o que responder e devolvi a pergunta: "Por que você está me perguntando isso?". E ele me disse que era homossexual e amante do hip hop. Acreditava que como os raps têm um poder de crítica muito forte, teria tudo a ver se os movimentos se unissem para combater preconceitos. Isso foi há mais de cinco anos e desde então venho pensando bastante no assunto.Há muito preconceito contra os LGBT dentro do hip hop?A essência do hip hop é combater a discriminação, foi assim que ele nasceu, mas infelizmente as pessoas acabam escorregando em seus preconceitos quando dizem o que realmente sentem. E por isso ainda há segregação no movimento em relação às mulheres e principalmente aos homossexuais. Você foi criticado quando passou a apoiar publicamente o movimento LGBT?Fui ridicularizado quando apoiei um grupo chamado Gangsta G, que aborda a temática homossexual em suas músicas. Alguns militantes mais conservadores do rap, que estão e devem permanecer no anonimato, reprovaram a minha iniciativa. Mesmo sendo hétero e o único rapper com visibilidade nacional a apoiar a causa, encarei as críticas. Meu apoio é verdadeiro e acho que as pessoas devem lutar pelos seus direitos. O preconceito contra o homossexual é algo muito sério, aumenta se ele for negro e piora se for pobre. Você acha que a aceitação do homossexual em uma comunidade de baixa renda é melhor ou pior do que entre as pessoas de classe média?Não sei dizer como é a aceitação do homossexual por pessoas de classe média, mas sei que dentro das favelas a convivência com os LGBT está mais harmoniosa. E isso fica mais evidente entre os jovens. Não sei exatamente o que mudou, mas felizmente eles são mais modernos quando o assunto é homossexualidade. Você acha que os artistas passarão a apoiar mais esse tipo de causa ao saberem da sua iniciativa? Não sei, mas seria muito bom. Quando desejei ser uma pessoa pública, a ideia era amplificar a minha voz para que ela atingisse mais pessoas. Mas no meio artístico, isso ainda é meio raro e as pessoas não costumam se indispor por assuntos muitas vezes polêmicos. Quando mudamos nosso uniforme, algumas pessoas tendem a se incomodar.
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