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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Paulo Vilhena além dos clichês


De cuecas no palco, ator global surpreende na peça O Arquiteto e o Imperador da Assíria


"O Arquiteto e o Imperador da Assíria” traz a cena dois homens perdidos numa ilha. Isolados da civilização e das referências externas, incapazes de deixar de lado todas as influências que já carregam, traçam um duelo onde as posições hierárquicas se alternam, assim como a disputa de poder entre eles. Segundo Fernando Arrabal - o autor da peça em questão - o homem é um animal instintivamente competitivo e sexual. O texto é longo, por vezes verborrágico e chato. Os personagens oferecem um belo exercício para os atores. O ator Paulo Vilhena vinculado a TV, oferece um trabalho de despojamento invejável. É ele quem aproveita com melhores resultados as marcações oferecidas pela direção de Haroldo Costa Ferrari. Justo ele, um “ator de televisão”. A brincadeira entre ator de teatro – Beto Bellini, seu parceiro de cena – e ator de televisão está entre as desconstruções e interferências propostas por Ferrari. Para os leitores deste site não posso me furtar de informar que Vilhena passa as quase duas horas de peça de cueca, exibindo uma ótima desenvoltura. Seja de salto alto, travestido, exibindo sua porção feminina numa dança, simulando sexo, deixando o parceiro o acarinhar entre seus braços, lambê-lo e receber suas cusparadas. Suas tatuagens contribuem para dialogar com a caracterização de um homem “primitivo e animal”. Não, o texto não tem conotação gay. As questões de Arrabal não estão pautadas no sexo, embora seja justamente nas cenas que ela esta explicitada, que vemos que o homem é um animal passível de variações e opções que se alternam de acordo com a situação e o nível de pressão em que se encontra. A direção de Ferrari tornou a encenação mais fetichista – e porque não homoerótica? - e com tantos aparatos cênicos, se apóia para que o texto ganhe fluência, mesmo nas horas em que o psicologismo da história se sobrepõe. A direção poderia ter arriscado – como fez com tantos objetos em cena, a maioria apenas para servir de marcação - e adaptado o texto, para quem sabe assim o espectador não se entediasse nos minutos finais. Por vezes parece que a apresentação não terá fim. Mas não se esqueça: há Paulo Vilhena, de cuecas, pulando feito um macaco, suando e defendendo seu personagem e suas falas com propriedade superior ao de Bellini. Confesso que me surpreendi. Vilhena mostrou que não está ali brincando e por mais que não possa fugir de suas fãs sentadas na platéia - prontas a tirar uma foto do seu ídolo - está a serviço do teatro, como um bom aprendiz. Sim caros leitores, é um alivio saber quer por vezes pode-se escapar e prestar atenção em outros detalhes da encenação que não o texto.

O Arquiteto e o Imperador da Assíria Teatro do Leblon (Rua Conde de Bernadotte 26, Leblon - Rio de Janeiro)Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 20h Ingressos: de R$ 60 a R$ 70Até 20 de dezembro

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