Ele é o primeiro gay assumido eleito deputado federal a levar à frente lutas do movimento LGBT. Jean Wyllys (PSOL-RJ) conquistou uma vaga no Congresso Nacional falando de temas como direitos humanos, meio ambiente, educação e tolerância religiosa. Ele bateu um papo com o Mix e, entre outros pontos, indicou o que vê como avanços realizados por PT e PSDB a favor dos LGBT. Confira:Você já disse que além da questão lgbt vai defender os direitos do “povo de santo”. Com essa discussão religiosa do segundo turno, como vai ser abordar essa outra questão?A causa do povo de santo é importante porque o fundamentalismo cristão do Brasil cresce muito por duas vias. Ele avança e aumenta seu rebanho por duas vias. Uma é a demonização dos homossexuais e outra é a demonização do povo de santo. E é dessa maneira que eles conquistam cada vez mais fiéis. Eu percebo que o fundamentalismo religioso está crescendo nessas duas vias e é uma ponte entre essas questões, a causa do povo de santo e a causa LGBT. Afinal tem muitos LGBTs dentro do povo de santo. Então tem muito gay no candomblé, principalmente bem pobre, de periferia, pois ainda que o candomblé seja uma religião de intelectuais, por artistas na Bahia, no Rio de Janeiro, pelo que eu pude ver durante a campanha, e segui toda a periferia, vi que ainda é uma religião periférica. Periferia no sentido de ser praticada por muita gente pobre, muita gente negra ou afrodescendente. E aí esses gays são vulneráveis. Vulneráveis porque são gays, porque são pobres, e vulneráveis porque são de santo.Mas você acha que teve esse voto religioso?Teve o voto do povo de santo, sim. E o povo de santo, sempre quando eu ia falar com eles, é engraçado porque eu tomava um cuidado para falar só da questão religiosa, da questão da liberdade religiosa, de que nosso Estado deve defender a pluralidade de religiões porque nós somos um país formado etnicamente diverso e culturalmente diverso. E durante as interpelações eles falavam “ah, daí tem a questão gay”, eles mesmos é que traziam a questão. E nenhum deles é militante, nenhum está ligado a ONG. São gays, homens que estão a frente de terreiros, que são gays, se assumem gays, e que entendem que, pelo fato de eu ser gay, vou contemplar também os nossos direitos. Então eu chamo de voto simpatizante.Quem você apóia nesse segundo turno?Meu partido ainda não decidiu quem vai apoiar. Acho que é um prazo que o partido se deu ou pediu. Têm duas opções: ou ele dá o apoio crítico a Dilma ou ele libera os seus militantes e filiados para votar em quem quiser. Qualquer uma das decisões eu vou acatar de bom grado, já que eu sou parlamentar eleito do partido. Pelo fato de ser filiado ao PSOL, o fato de ter vindo me formado politicamente por meio da teologia da libertação, vindo do movimento pastoral, de estar ligado ao movimento LGBT, eu tenho uma inclinação maior, entre esses dois candidatos, a votar na Dilma.Você acha que houve avanços para LGBT no governo Lula? Quais foram esses avanços?Não sou ligado ao governo Lula, nem sou petista. Mas como gay eu me senti contemplado pelo governo Lula. Seria injustiça da minha parte, não é porque eu sou não sou petista, que eu não vou reconhecer que o governo Lula avançou em políticas LGBT, sim. O Brasil Sem Homofobia é um exemplo disso. O próprio fato dele ter acatado o Plano Nacional de Cidadania LGBT que foi elaborado pelo movimento e entregue ao governo e ele ter acatado esse plano. Enfim, acho que houve sim avanço. A gente precisa avançar mais, mas houve avanço sim.Você conhece os planos para LGBT dos dois candidatos?Eu sei que o candidato Serra fez uma série de políticas públicas aqui em São Paulo muito positivas para a população LGBT. Fez isso e eu louvo muito. Sei que ele tem um corpo técnico muito preparado e, quando a gente fala de política pública para LGBT, ele não fez só para esse gay mais incluído, mais formatado pelo mercado de consumo. Ele fez ações que contemplam, por exemplo, as travestis. E isso é muito bacana. O meu partido ele é uma dissidência do PT, mas isso não quer dizer que a gente não vai reconhecer a importância do PT na construção da nossa democracia e na construção de políticas públicas, não só para LGBT, mas para outros setores que são mais importantes. Eu acho que quando a gente escolhe um partido, a gente escolhe pela nossa maior afinidade com o partido, mas isso não quer dizer que a gente vai ser injusto com as conquistas e os benefícios para a República que os outros partidos trouxeram.Você sofreu preconceito por ser ex-bbb?Uma parte da imprensa, quando eu lancei minha candidatura, fez um movimento de jogar minha candidatura junto com os outros. Ela fez esse movimento e eu tratei de acabar com esse movimento imediatamente. De que maneira? Primeiro arrebanhei meus amigos, todos de prestígio para provar o contrário. Veio Vagner Moura, Caetano Veloso, que já colocou a imprensa numa sinuca de bico. “Não, alguma coisa está errada. Se essas pessoas estão apoiando o Jean, o errado somos nós.” O problema é que a imprensa dificilmente faz auto-crítica. Mas é verdade, eu sou jornalista e sei bem disso. Depois as informações estão disponíveis e é no mínimo preguiça de quem não vai no meu currículo e ver que eu não posso ser colocado como os demais porque eu estou no PSOL. Nunca foi um partido de aluguel, é um partido de esquerda, totalmente coerente. O PSOL não abraçaria uma candidatura que não fosse coerente. Quem tentou colocar minha candidatura por esse lado tentou de má fé ou preguiça. Debocha uma parte ressentida e outra parte ignorante.Você vai trabalhar pelo surgimento de nossas lideranças?Vou sim. Eu acho que o movimento, como um todo, e eu digo movimento, não só na sua expressão através das ONGs, mas o movimento como todo precisa de novas lideranças. Eu fico feliz que a minha eleição ela tem esse efeito emblemático também. Eu sou o primeiro, na história do Brasil, como um todo, a entrar no Congresso Nacional assumidamente gay e parceiro e ligado no moderno movimento gay. E isso tem um efeito na subjetividade muito importante, porque imagina: um garoto gay vai poder dizer “eu posso ser um candidato federal.” As pessoas não tem o alcance disso e parte dos nossos meios de representação também não quer dar importância devida a isso porque isso abala uma ordem.
pride
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