Enquanto espero a bagagem, conto entretida o número de batidas por minuto do meu coração. São muitas, e posso sentir todas. Uma estranha sensação de déjà vu traz uma familiaridade especial ao momento. Outra vez numa outra cidade, outra vez apaixonada por alguém que eu nunca tinha visto antes. É estranho pensar nessa coisa de amores virtuais. Enquanto em todos os outros aspectos a tecnologia me fascina, a idéia que duas pessoas possam estar tão conectadas a ponto de sentirem – e sentem – por entre telas de computador vai ter sempre para mim um quê de inacreditável e extraordinário. Coisas que ninguém explica.Você passa meses dividindo a sua vida, os seus sentimentos, os seus momentos mais íntimos com alguém que você nunca viu antes – uma foto, uma imagem de câmera. Vocês estão conectadas, se entendem com apenas um smiley, parecem feitas uma para a outra. Ai de repente começa uma saudade insuportável de algo que nunca aconteceu. O toque delicado que condiz com a postura formal, o cheiro do perfume, o gosto do beijo, o calor do corpo. Há coisas que o virtual nunca irá substituir.Então você toma toda a coragem do mundo, compra uma passagem aérea e quinhentos dólares, respira fundo e se prepara para atravessar o oceano em busca de um sonho, de um corpo por trás daquela alma já tão conhecida pela tela do computador.Mas e se ela não gostar de você? E se o gosto do seu beijo não for o que ela espera, e se ela ficar com medo e nunca aparecer? Qual o quê! Isso não será nenhum problema, você sente, ela sente. Seus instintos nunca falharam antes, esta não será a primeira vez. E qual o problema então? Por que o meu coração bate tão apreensivo?
mix
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