Espetáculo Bicha Oca usa personagem melancólico para contar as histórias de todos os gays
A bicha oca da peça de mesmo nome é um engano, equê dos bons, deixa todos os 20 espectadores do cenário cru e intimista do Casarão Belvedere, em São Paulo, com uma impressão totalmente diferente do que anuncia. A bicha oca não é oca, ela é cheia, cheia demais das minhas, das suas, das nossas, das histórias de cada gay neste mundo tão grande. Ainda bem que ela é cheia, sendo assim, ela tem muito o que falar, provocar, discutir e lembrar durante os 45 minutos da peça. Alceu, a bicha cheia de si e de todo mundo, acha que sua vida não anda muito boa, é triste, melancólico e carrega um olhar de desespero, desilusão. Em um dia 31 de dezembro de um ano qualquer, ele começa a relembrar suas histórias enquanto come uma suculenta laranja, toma banho e segue seu cotidiano morno de emoções. Suas histórias porque é ele quem conta, mas elas são de todos os gays. Estão ali os momentos bons ao lado do amigo mais que amigo na infância, o homem mais velho que aparece na adolescência e desperta interesse, o bofe que gozou e virou a cara e aquele que prometeu tudo, mas não conseguiu cumprir nem a metade. Trabalhando em cima de textos do escritor Marcelino Freire, Rodolfo Lima faz Alceu despertar lembranças pinceladas na memória e reforçadas pela dor, profunda, do poderia ter sido. Em uma cozinha onde cabem no máximo 20 espectadores, Alceu chega perto de seu público, olha no olho, cutuca, instiga, se joga no chão, provoca e chama a atenção para sua alma cheia de buracos profundos deixados pelo tempo. Ele olha no seu olho, fala diretamente na sua cara e não tem vergonha de admitir a pegação no trem, falar das boas transas e relembrar os paus mais incríveis de sua vida sexual. A bicha oca é cheia de coragem e sinceridade.Em “Bicha Oca”, Rodolfo resgata com direção de Edu Reis o teatro de raiz, representando no palco, no caso, na cozinha, um papel que reúne várias histórias e as representa com romantismo, imaginação. Coisa esquecida em tempos onde fazer teatro bom significa ousar além do limite do bom gosto e produzir narrativas fugidias e que deixam a sensação na platéia de ser uma experiência cultural, não fruidora da arte. A bicha oca é a mais cheia que se pode ver hoje em dia, aproveite.
“Bicha Oca” – até 30 de setembro Quartas-feiras às 21hEspaço Cultural Dona Julieta Sohn (Casarão do Belvedere):Preço: R$ 20 Rua Pedroso, 267 - Bela Vista – São PauloTel: (11) 3266-5272
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