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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Em cartaz em SP, O Novelo tem personagem gay quase enrustido



Cinco irmãos se reencontram na sala de um hospital para os últimos momentos da vida um homem que supostamente seria o pai deles, que os abandonou há muito tempo, sem dar aviso algum, na peça Ö Novelo”, em cartaz em São Paulo. Tema raro nos palcos, o abandonado paterno ganha reforço no universo diferenciado dos irmãos. É como se cada um deles ganhasse um tipo de “desvio” a ponto de isso afastá-los um dos outros, ao mesmo tempo em que tal detalhe os aproxime. O abandono é o que os une, pois cada um no seu mundo se sente só.Zeca (Fábio Cador) é rico, machista e apaixonado por carros. Tem uma visão limitada e grosseira das situações, mas é o mais emotivo dos irmãos. É o que chora. Mauro (Flavio Baiocchi) é visto por todos como o verdadeiro pai, já que na posição de mais velho, cuidou de todos, os protegeu. Mas quem o protege? Talvez uma filha, a única coisa que lhe restou. Mauricio (Alexandre Freitas) é o que mais apresenta resquício de uma família devastada pela ausência paterna: é alcoólatra e como consequência, não deu conta da família que criou, separando-se da mulher e das filhas.Cláudio (Flavio Barollo) é ator, tem mente aberta, é o “engraçado” da família, o supostamente mais sensível, mais frágil, que carece do apoio (financeiro, inclusive, dos irmãos), porque como é artista tem vida instável. João (Herbert Bianchi) é o gay recluso, bem sucedido e intimidado pela presença impositiva dos irmãos, seja de afeto, seja de masculinidade, seja de responsabilidade.A direção de Zé Henrique de Paula acrescenta pouco ao texto de Nanna de Castro. A dramaturgia é pautada nos clichês do universo masculino, e nas caricaturas que tal meio produz. Nanna também não abriu mão do dramalhão e quer pegar seu público pela emoção, algo prontamente entendido por Zé Henrique. “Novelo” não vai muito longe, mas expõe em alguns momentos temas tocantes, que faz com que o expectador se identifique e se comova com o drama dos irmãos.João, o irmão que interessa a esse site, é daqueles gays que não saíram do armário. Não recebem bem o afeto do irmão artista e nem a cobrança presencial do irmão mais machão. Como não a nada na dramaturgia que revele um trauma na infância – tipo, João nunca foi currado, ou espancado pelos outros irmãos - pode-se dizer que João é um homossexual problemático e recalcado. Não lida bem com sua sexualidade, se veste de forma careta e sua postura perante os outros é sempre de defesa, nunca de expansão ou de afeto. Não por acaso a foto de divulgação da peça mostra um “personagem” se sentindo sufocado, ao afrouxar a gola da camisa.A peça de Nanna se salva da mesmice quando a própria autora brinca com os arquétipos, ao por em cena um irmão levemente gay – talvez mérito da direção, talvez do ator que faz Cláudio.Barollo compõe um personagem engraçado, cativante, que não tem medo de se expor, de revelar seus sentimentos e nem de ser rotulado. Ri de si próprio e de sua condição, seja ela de futuro corno, de ex gay, de irmão falido financeiramente. Um bom momento do ator, que mostra um tipo bem diferente da pesada composição para o filho que personificou na peça de Henrik Ibsen “Os Espectros”.Ao fazer esse trocadilho – o irmão ator é mais gay que o próprio gay da família – a autora brinca com os clichês da profissão de ator, e de um homem mais sensível que o permitido. O bom é que o texto faz isso com muita leveza, sem parecer piegas ou impositivo. Ponto positivo na dramaturgia que traz na sua grande maioria os chavões masculinos. E para o ator que suaviza a questão com muita propriedade.Cador e Barollo se saem melhor. O primeiro como o grande machão comedor do quinteto e o segundo como o cara bacana pronto a se renovar perante as novas situações, seja ela para aliviar o peso da ausência de um pai que não conheceu, ou prestes a ceder a própria mulher, para poder aliviar a barra e ficar as boas com um dos irmãos. Mas os clichês existem e imperam na composição do personagem de Cador: porque o gay não curte um carrão, enquanto o machão não é ligado em autores universais?A composição de Herbert para o gay da turma é contida e pontual. É como se o seu gay – o mais inteligente dos cinco, com reconhecimento acadêmico e tal, mais um clichê da “bicha” que se salva pelo intelecto – morasse no armário e saísse às vezes para passear com sua camisetinha pólo. Em “Novelo” apenas uma certeza: às vezes o cara mais liberal da turma (Cláudio) é mais legal que os supostos liberais (João).Sim, no universo masculino de Nanna há muito chororó, muita lamentação e as interpretações – e os personagens - de Baiocchi e Freitas reforçam essa idéia de lamúria. A direção de atores de Inês Aranha pontuou o óbvio no texto, e nem sempre o resultado cênico, salva os atores da retratação literal e sem inspiração de seus personagens.Divirta-se com a impetuosidade do personagem Cláudio. Nada como a arte para salvar o homem do marasmo. Ops, tai outro clichê.“O Novelo”- até 18/12Sextas e sábados, 21hViga Espaço Cênico: Rua Capote Valente, 1223Tel.: (11) 3801-1843www.onovelo.com.br


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