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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Retrospectiva do ano com o que de melhor e pior aconteceu




A revista JUNIOR pediu a seu estrelado colaborador Tony Goes para que efizesse um balanção com o que de melhor e pior aconteceu neste ano que termina. Veja abaixo a retrospectiva. 2011: foi bom para você?Já sou bem entrado em anos, e posso garantir uma coisa: ao longo de quase toda a minha vida, não existiu nenhum debate público sobre os direitos dos gays no Brasil. Não que não existissem gays, é claro. Eles apareciam no carnaval, nos programas de humor, no mundo da moda, quase sempre “fechativos”. Os homossexuais que escapavam da afetação eram quase invisíveis, e queriam continuar assim. Ninguém reivindicava nada. Havia uma espécie de acordo tácito. “Vocês ficam aí quietinhos”, parecia dizer o resto da sociedade, “e a gente não incomoda vocês. Só de vez em quando...”Ainda bem que isto mudou. A redemocratização, a internet, a própria evolução dos costumes, tudo isto fez com que bichas, sapatas, travas, trans, saíssemos todos à luz do dia e passássemos a reclamar. Muito atrasado no assunto quando comparado a outros países – inclusive alguns vizinhos – o Brasil agora parece querer recuperar o tempo perdido.A homossexualidade e seus reflexos políticos estão na ordem do dia. Há até pouquíssimo tempo quase ninguém falava em casamento entre pessoas do mesmo sexo, adoção, discriminação no trabalho e na escola, violência contra homossexuais – todas essas questões eram consideradas irrelevantes, inclusive por partidos de esquerda.Hoje estes mesmos temas são discutidos nos jornais, nas revistas e até mesmo nas novelas. Eu identifico um divisor de águas: a campanha eleitoral de 2010, quando os candidatos mais importantes foram buscar apoio entre as lideranças evangélicas, e em troca foram intimados a se posicionar contra a luta pelos direitos igualitários.No final nem foi isto o que decidiu a eleição, mas a polêmica chegou às salas de jantar de todo o país. Com tal força que hoje vemos acontecer no Brasil um fenômeno frequente no resto do mundo, mas que por aqui adquiriu cores bem nacionais: o homofóbico “simpático”, que se recusa a ser reconhecido como tal – afinal, ele “não tem preconceito”, e muitos de seus amigos são gays. Mas é contra o casamento igualitário, e não quer de jeito nenhum ter um filho homossexual. Quantos desses você conhece?Esse movimento fez que 2011 fosse um ano importantíssimo para a nossa causa, com algumas derrotas e muitas vitórias. Para esta tendência continuar e até mesmo crescer, a receita é uma só: mais visibilidade e mais mobilização. Se seguirmos pensando apenas em festas e malhação, estaremos fazendo o jogo do inimigo.Quase todo fato negativo que nos aconteceu neste ano foi compensado por um ou mais positivos. Aqui vai uma breve retrospectiva (em vermelho as notícias negativas e em azul as positivas)Jair Bolsonaro, o superstar da intolerânciaO deputado federal, cuja fama se restringia ao estado do Rio de Janeiro, agora é conhecido do Oiapoque ao Chuí, graças a suas polêmicas declarações ao programa “CQC” (Band) em março. Apesar de toda a reação contrária, sinto que está com a reeleição garantidérrima, e seus filhos também. A família sempre teve votos entre os setores militares mais retrógrados do RJ, e agora vai atrair ainda mais gente que concorda com suas ideias trogloditas. Teremos que conviver com eles por ainda alguns anos. Por outro lado…Jean Wyllys, nosso representante no CongressoO vencedor do “BBB” 5 entrou raspando na Câmara de Deputados, eleito com apenas 8 mil votos e beneficiado pela controversa legislação eleitoral brasileira (que dessa vez serviu para o bem, ufa). E vem se destacando como um parlamentar ativo, trazendo projetos inovadores e se revelando um guerreiro da causa LGBT (e não só dela). Jean Wyllys não é o primeiro deputado federal assumidamente gay – o finado e patético Clodovil leva este título – mas é o primeiro com culhões que honram sua orientação sexual. Também deve ser reeleito com folga no próximo pleito.O aumento da violência contra gays e lésbicas2010 foi repleto de casos horripilantes, das lâmpadas fluorescentes da Avenida Paulista ao bárbaro assassinato do garoto Alexandre Ivo. Infelizmente, 2011 não ficará atrás. Crimes de ódio se alastraram por todo o Brasil. Entre os casos mais tristes, a agressão a pai e filho confundidos com namorados numa feira agropecuária em São João da Boa Vista (um deles teve a orelha arrancada a dentadas) e a matança num apartamento da rua Oscar Freire, em São Paulo, cometida por um enrustido transtornado. Pelo menos agora a polícia costuma ser avisada, coisa que antes nem acontecia.A união civil entre pessoas do mesmo sexoO Supremo Tribunal Federal deu um show de civilização e lucidez em maio, ao equiparar – por unanimidade – os direitos dos casais do mesmo sexo que vivem juntos aos dos casais hétero na mesma situação. Muitos religiosos reclamaram, mas a sociedade como um todo acatou bem a decisão. Foi um gigantesco passo à frente, e que abre caminho para o casamento propriamente dito.Cadê o beijo gay na TV aberta?É uma novela sem fim. Personagens gays nunca foram tão frequentes na nossa telinha, mas por que não demonstram fisicamente seus afetos? A única exceção foi o beijo entre Luciana Vendramini e Giselle Tigre em “Amor e Revolução”, que teve baixa audiência no SBT. E mesmo esta cena só serviu para excitar os héteros: alguns meses mais tarde, a emissora vetou um beijo entre dois homens na mesmo programa. Enquanto isto, os estereótipos caricatos sobrevivem firmes e fortes no mordomo Crô de “Fina Estampa” ou na trans Valéria de “Zorra Total”."Ti Ti Ti” e “Insensato Coração”Apesar de não mostrarem nem uma reles bitoquinha, estas duas novelas da Globo se mostraram simpatizantes à causa gay, e até mesmo militantes. “Ti Ti Ti”, adaptada por Maria Adelaide Amaral, trouxe para o horário das 19 um namoro gay “normal”, entre garotos saudáveis e bonitos, além de uma família que aceitava, com todas as dificuldades mas muito amor, a orientação diferente de um filho. Já “Insensato…”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, teve meia dúzia de personagens homo, incluiu na história o assassinato de um jovem gay e terminou com um casal assinando um documento de união estável. Não é pouca coisa, não.A proibição do “kit anti-homofobia”Foi uma decepção. O governo abriu as pernas e cedeu à pressão dos parlamentares reacionários, e não deixou que três vídeos educativos chegassem às escolas da rede pública. O pior foi ouvir a presidente Dilma Rousseff dizer que as tais peças faziam “propaganda de opção sexual”. Justo ela...Vídeos “particulares”, experiências universaisQuem precisa do governo? A internet foi invadida por vídeos simpatizantes oriundos da “iniciativa privada”. Entre os melhores, “Não Gosto dos Meninos”, inspirado pela campanha anti-bullying “It Gets Better” (e do qual tive a alegria de participar), e todo o projeto “#EuSouGay”. Que venham outros.Não faltaram palpites infelizes…A ex-atriz e hoje, infelizmente, deputada Myrian Rios declarou que demitiria um empregado gay, pois ele/ela poderia molestar seus filhos. O vereador paulistano Carlos Apolinário propôs um absurdo “Dia do Orgulho Hétero”. O ator Caio Castro disse que preferia ter fama de pegador do que veado. Em compensação…...mas quem fala o que quer, ouve o que não querA reação não se fez esperar em nenhum desses casos. O mundo veio abaixo, o que obrigou Myrian Rios a se desculpar e alegar ter sido mal-interpretada; Caio Castro, idem. O tal “Dia da Vergonha Homofóbica”, como a data foi rapidamente apelidada, foi vetado pelo prefeito Gilberto Kassab. Mas Apolinário não se redimiu, e agora vai tentar proibir a Parada do Orgulho Gay na Paulista. Será derrotado novamente.A verdade é que o saldo nos é bastante positivo. Lembro de vários episódios bacanas que, felizmente, não tiveram contrapartida ruim:- A casual saída do armário de Marco Nanini, em entrevista à revista “Bravo!”, assim como quem não quer nada;- A edição dedicada à diversidade sexual da revista “Trip”, uma aula de bom jornalismo;- A programação escancaradamente G e L da MTV no dia 12 de outubro (e ainda bem que o canal é S nos outros dias do ano);- O evento retumbante com que o estilista Carlos Tufvesson e o arquiteto André Piva celebraram sua união, no Rio de Janeiro, repleto de celebridades e socialites. Era para ter sido uma festa de casamento, mas o juiz não autorizou a conversão do estado civil: dessa forma, a noite acabou se transformando no comício pró-igualdade mais glamuroso do ano.Para terminar, nada como mais uma variação (a milionésima) do viral mais assistido de 2011, estrelado pela sem noção/diva absoluta Luisa Marilac.“E ainda teve boatos que a luta pela igualdade no Brasil ia de mal a pior. Se isto é estar na pior, põhãn…”Que venha 2012.


mix

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