Um lugar comum sobre o mundo dos artistas relaciona sempre grandes criadores ou personalidades do mundo das artes e da cultura com pessoas de gostos sexuais amplos e incertos. Bissexuais, homossexuais, homens ou mulheres com desejos variados e escandalosos formam uma imaginária classe artística extravagante a quem tudo é permitido. Conversamos com o escritor e art promoter Claudio Nigro, radicado na Itália, curador do evento "Como Nasce uma Obra Prima", no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, entre os dias 09 de novembro a 08 de dezembro, todas as terças e quartas às 19 horas com entrada franca. Lá ele pretende discutir e elucidar os maiores mistérios ligados à arte, inclusive do ponto de vista do gênero e do comportamento sexual.Confira papo:É verdade que os grandes gênios da história da arte em sua maioria são todos homossexuais ou bissexuais?Não dá para generalizar, mas não podemos negar a maciça presença dos homossexuais no campo das artes. Se considerarmos a sociedade grega, a coisa fica mais evidente. Um erro acreditarmos que os gregos eram simples bissexuais. Recentes estudos apontam que eram homossexuais na sua maioria e que praticavam a heterossexualidade em nome da própria sobrevivência. O comportamento católico demonstra uma outra tendência ligada à relação dos homens entre si. Uma das chaves de compreensão do celibato dos padres é exatamente eliminar o papel da mulher da linhagem do poder. Se prestarmos atenção, quem é o césar vestido de branco, sentado no trono de Roma senão o papa? O que mais foi importado da cultura hebraica pelos romanos senão uma misoginia declarada? Óbvio que isso não diz respeito só aos artistas, mas não podemos falar de arte sem falar de Grécia e da Igreja.Leonardo Da Vinci e Michelangelo eram gays?Da Vinci sofreu dois processos por sodomia. Acredito que nas obras de um artista podemos ler seu mundo interior. Não há como negar a força estética da figura masculina das obras de Michelangelo. A estátua do Davi me parece uma declaração de amor ao corpo do homem, além de ser um dos maiores símbolos da arte universal. Mesmo os seus personagens femininos de têm corpos musculosos, pescoços amplos e traços viris. É sabido que rapazes posavam para retratos femininos na época. A Eva, da famosa Criação no teto da Capela Sistina, provavelmente foi desenhada sobre o modelo um garoto efeminado. O próprio Shakespeare fala sobre um rapaz delicado em seus poemas e usava atores homens para interpretar o papel de suas heroínas. Julieta, Cleópatra, Lady MacBeth e Ofélia foram escritos para andrógenos, “travestis” elisabetanos. Essa tradição muitas vezes retornou no ciclo da história. O primeiro papel do grande Laurence Olivier foi o de Catarina, na Megera Domada.Clodovil Hernandes tinha razão em dizer que todo gay é genial?Não. Não basta nascer gay para ser genial. Imagino que todos nós conheçamos gays geniais e gays extremamente xaropes. Não acredito que seja assim automático. O que me parece provável é que toda a dificuldade relativa ao comportamento humano leva seu portador a descobrir novas maneiras de se comunicar com a massa. De uma certa forma, o lado “fora do comum” de um homossexual pode favorecer o fervilhar criativo em sua vida.
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